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YOGA O CAMINHO DA PRESENÇA


Maura Cristiane Santana Carneiro1

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Antes de iniciarmos nosso estudo e vocês terem qualquer informação sobre o yoga, quero dar-lhes uma opinião realmente sincera e honesta: YOGA É EXPERIÊNCIA!

E por que yoga é experiência? Por que apenas você conseguirá sentir o que realmente existe entre uma respiração e outra, entre um asana e outro, entre ficar em pé e se equilibrar, ou sentar e estender suas pernas. Nada é mais pessoal do que sentir o yoga em você, com suas dificuldades e facilidades, com suas inquietações e suas limitações. Essa forma de ver o yoga transcende tudo que possa ser explicado.

Cada corpo é um templo, e em cada templo existe uma vivência, tão pessoal que mesmo que queiramos explicar não conseguimos. Cada ser e cada respiração é tão íntima que mesmo se convivendo consigo mesmo as vezes nos surpreendemos, as vezes somos estranhos a nós mesmo, não nos reconhecemos e nos afastamos da nossa própria presença.

Quando a prática de yoga se estabelece, começamos a ter realmente um lugar de reencontro com tudo que somos, tudo que brota até mesmo com tudo que não reconhecemos e que perdemos, ou deixamos perder pelo caminho da nossa existência.

O yoga nos ensina as imperfeições e as maravilhas que possuímos e o quanto somo valiosos em estarmos neste corpo humano nesta existência. Nos ensina a valorizar cada respiração que conseguimos realizar em sintonia com o asana, Nos ensina que o corpo é apenas um espaço de profundo aprendizado e que é tão particular e imaculado que pertence ao universo inteiro, mas não a outro ser humano. Também nos ensina sobre a relatividade temporal, casa segundo sobre uma perna, ou em equilíbrio pode ser uma eternidade ou um sopro. Com oda certeza todos os inúmeros mestres que experienciaram o yoga e depois fizeram questão de difundi-lo, queriam que vivêssemos o que eles viveram. Que vissem o que eles viram, mas principalmente, que fizéssemos isso pelo nosso corpo e pelos nossos olhos, não esse olho que me vê agora, ou vê o ambiente e cada um de nós, mas o olho que vê o universo inteiro em nós.

O yoga é um caminho para transcender o corpo, e mais, ele nos ensina sobre a finitude e os obstáculos dela através da prática, e também ensina sobre a continuidade de um ser tão precioso que ultrapassa os limites físicos. Por esse motivo, mas em outras palavras podemos afirmar que sim, o yoga é mais do que uma atividade física, é mais que uma forma de se conectar com seu corpo, é mais que uma forma de melhorar a concentração, o bem-estar e suas relações interpessoais. Yoga é uma fonte inesgotável de energia e superação. É uma forma de sempre retomarmos o modo como nos vemos e vemos o mundo. Ele nos auxilia no aprendizado sobre prestar atenção em nosso mais íntimo mundo e nos conectarmos com ele, e assim aprender a nunca mais nos deixar ir, e se por acaso formos, conseguirmos retornar sãos e salvos ao nosso lugar de origem que é universal.

Cada postura, cada respiração e cada experiência traz em si um aprendizado que poderíamos levar séculos aprendendo, mas que pelos mestres compassivos com nosso sofrimento nos trouxe uma dádiva de cultivar através desta prática extremamente inclusiva.

Mas como inclusiva? Podemos pensar nisso quando vemos alguém com o pé na cabeça, mas este olhar é um olhar ofuscado pelo sentido da visão. Muitas vezes nossos sentidos nos enganam mostrando apenas os aspectos externos e não nos permitindo aprofundar em águas de ensinamento. Passamos a enxergar apenas o que está fora de nós, e somos ensinados desta forma desde a mais tenra infância reproduzido isso por toda nossa vida. Mas essa figura externa não é o yoga, esse não é o aspecto principal, o que realmente importa foi o trajeto que levou aquela cena. Tudo que permeou aquela vivência, tudo que custou, ou não para aquela foto.

Nosso corpo nasce flexível, somos de borracha quando criança, mas a medida que entramos na vida, vamos enchendo nossas articulações de tensões e medos, de insegurança e tristezas, demoramos muto tempo para amadurecer e trazer novamente o esvaziamento do nosso corpo, comemos demais, bebemos demais, julgamos demais, apontamos demais e consequentemente nos olhamos de menos. Tudo que está fora é mais interessante e prazeroso que chorar sozinho sem ninguém ver, ou sorrir sem que outras pessoas estejam vendo. Todo mundo precisa ter uma testemunha da sua vida, mas a principal e única que realmente importa somos nós mesmos. Não gostamos de pensar nem de falar sobre finitude neste plano, nesta vida, sendo que é o único aspecto evidente da trajetória de vida de todos os seres no universo, incluindo o próprio universo.

Fugimos do sofrimento e precisamos estar felizes o tempo todo, aprendemos desde que criança que não podemos sofrer, nem conhecer a escassez, e nem mostrar ela para nossos filhos. Mas assim como a felicidade, o sofrimento é inevitável e na maioria das vezes não conseguimos lidar com ele. Fugimos. O yoga nos ensina a encarar o sofrimento, nos ensina que ele tem fim, bem como a felicidade de sair de um asana doloroso, desconfortável, que não gostamos. Ensina que podemos superar tudo e que somos muito mais que esse corpo que querendo ou não terá fim.

ORIGEM DO YOGA

O yoga é uma prática milenar que remonta a mais de 5.000 anos, originada na antiga civilização do Vale do Indo, na Índia. O termo "yoga" vem da palavra sânscrita "yuj", que significa "unir" ou "integrar". A prática busca a união entre corpo, mente e espírito, conectando o indivíduo ao universo. Inicialmente, o yoga era uma prática espiritual e filosófica, cuja intenção era alcançar a iluminação, ou moksha, a libertação do ciclo de renascimento e morte (samsara).

Os ensinamentos do yoga foram transmitidos oralmente de mestre para discípulo até serem registrados nos textos védicos, os mais antigos da cultura indiana. Entre os principais textos que fundamentam o yoga estão os “Yoga Sutras” de Patanjali, escritos entre os séculos II a.C. e IV d.C. Nesse tratado, Patanjali sistematiza a prática do yoga em oito passos conhecidos como "Ashtanga Yoga" ou "Os Oito Caminhos do Yoga".

O Hatha Yoga é uma prática ancestral originária da Índia, com raízes profundas nos ensinamentos védicos, que datam de mais de 5.000 anos. A palavra "Hatha" é composta por dois termos sânscritos: Ha (sol) e Tha (lua), simbolizando a dualidade entre forças opostas e a busca pelo equilíbrio entre elas. O Hatha Yoga surgiu como uma das formas de integrar corpo, mente e espírito, preparando o praticante para a meditação e para o caminho espiritual. Embora seus primeiros registros escritos estejam no texto clássico "Hatha Yoga Pradipika", do século 15, essa tradição remonta a muito antes, sendo uma das várias abordagens dentro do vasto sistema de Yoga.


YOGA A SABEDORIA DA AÇÃO

O grande mestre B.K.S. Yengar, que foi o embaixador do Yoga no ocidente, nomeou o yoga como a sabedoria da ação:

“Yoga não é para aquele que come demais, nem para aquele que se mata de fome; não é para aquele que dorme em excesso nem para aquele que permanece acordado. Pela moderação na comida e no repouso, pelo regramento no trabalho e pela harmonia entre sono e vigília, o yoga combate toda dor e sofrimento”. (YENGAR,B.K.S., 2000 – pg. 24)

A prática de yoga desperta um sentido de medida e proporção. Nós restritos em nossos corpos que é nosso instrumento no Yoga, aprendemos a extrair harmonia e ressonância dele. Através da prática da paciência, que é uma característica muito trabalhada no yoga, podemos ir afinando e animando cada célula do nosso corpo, desbloqueando e liberando nossa capacidade que inicialmente nos coloca em cheque, condenados apenas à frustração e a morte (M. Yehudi, 1964). O seu principal ensinamento vem de cultivarmos nosso ser como uma arvore, doce e esplendorosa, mas que requer profunda atenção em si mesma. Propõem que abandonemos os olhares externos, buscando sempre o aprimoramento de si, sobre si e para si, não de uma forma individualista e egoísta, mas sim como uma forma de adquirir tamanha sabedoria a ponto de não causar mais sofrimento aos outros seres e nem ao mundo.

A visão mais incrível é perceber a contrapartida das nossa ações/atitudes fundamentais, ou seja, nossa posição de mente sobre nós mesmos e o mundo, reflete diretamente em nosso próprio corpo. Neste sentido nosso primeiro olhar deveria ser sobre o nosso alinhamento corporal perante nós mesmos, nossos entes queridos, nosso dia, etc. Essa metáfora está ligada aos alinhamentos do nosso lado direito e esquerdo com tal precisão que mesmo o ajuste mais fino se torne possíveis; “a comparação e a crítica deve ser entre o alinhamento do meu lado esquerdo e no meu lado direito; ou ainda a força de vontade pode nos levar a alongar o corpo desde os dedos dos pés até o topo da cabeça”. ( M. Yehudi, 1964). Esta prática requer uma atenção plena em nossos movimentos corporais, mas fundamentalmente em nossos movimentos mentais, até alcançar, em sua postura, o equilíbrio entre contração e relaxamento.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO YOGA

Posturas (Asanas): As posturas físicas do yoga são uma das partes mais reconhecidas da prática. Elas promovem força, flexibilidade e equilíbrio, preparando o corpo para a meditação. Embora a prática física seja um aspecto importante, ela é apenas uma parte de um sistema mais amplo.

Respiração (Pranayama): A prática da respiração controlada é fundamental no yoga. Pranayama ajuda a controlar a energia vital (prana) e a mente, promovendo a tranquilidade e o foco. É uma ferramenta poderosa para equilibrar o corpo e a mente.

Meditação (Dhyana): A meditação é central para o yoga. É através dela que o praticante pode alcançar um estado de concentração e clareza mental, levando a um estado de consciência superior.

Autocontrole (Yamas e Niyamas): Essas são as disciplinas éticas e morais do yoga. Os Yamas (abstinências) e Niyamas (observâncias) são códigos de conduta que guiam a vida do yogue, promovendo o respeito a si e ao outro.

Desapego (Vairagya): O yoga ensina o desapego das distrações e dos desejos materiais. Isso é essencial para alcançar a libertação, pois a mente humana tende a se apegar às coisas que limitam seu desenvolvimento espiritual.

BENEFÍCIOS DO YOGA

Podemos elencar os benefícios do yoga através de três aspectos principais:

  1. Benefícios Corporais

Flexibilidade: A prática regular de yoga aumenta a flexibilidade muscular e articular.

Força: As posturas (asanas) fortalecem o corpo como um todo, trabalhando os músculos e aumentando a resistência.

Postura e equilíbrio: O yoga melhora a postura corporal, alinha a coluna e promove maior consciência corporal, ajudando a prevenir lesões.

Respiração e circulação: As técnicas respiratórias (pranayamas) melhoram a oxigenação do corpo, regulam o sistema cardiovascular e aumentam a vitalidade.

Saúde geral: A prática regular de yoga estimula o sistema imunológico, melhora a digestão e promove o bom funcionamento dos sistemas internos.

  1. Benefícios Mentais

Redução do estresse: O yoga, através da respiração consciente e meditação, diminui os níveis de cortisol (hormônio do estresse), levando à sensação de calma e equilíbrio.

Clareza mental: A prática regular ajuda a mente a ficar mais focada, melhorando a capacidade de concentração e tomada de decisões.

Ansiedade e depressão: O yoga pode ser uma ferramenta eficaz para lidar com a ansiedade e a depressão, ajudando a controlar os pensamentos negativos e a aumentar o bem-estar emocional.

  1. Benefícios Espirituais

Autoconhecimento: O yoga é uma jornada interior. Através da prática, o indivíduo entra em contato com sua essência mais profunda, favorecendo o autoconhecimento.

Conexão espiritual: O yoga visa unir o ser individual ao universal, levando o praticante a uma consciência mais elevada, transcendendo os limites do ego e promovendo a sensação de unidade com o todo.

Libertação (moksha): A prática espiritual do yoga conduz ao objetivo final de libertação do ciclo de samsara (renascimento) e à união com o divino.

ASHTANGA YOGA: OS OITO PASSOS DO YOGA

O Ashtanga Yoga, descrito nos “Yoga Sutras” de Patanjali, apresenta um sistema de oito membros ou passos, que servem como uma estrutura para guiar o praticante no caminho da iluminação.

  1. Yama (Restrições éticas):

São cinco princípios morais que guiam as interações com o mundo:

  • Ahimsa (não-violência)

  • Satya (verdade)

  • Asteya (não roubar)

  • Brahmacharya (moderação dos sentidos)

  • Aparigraha (não apego)

  • Niyama (Disciplina pessoal):

São cinco observâncias internas:

  • Saucha (pureza)

  • Santosha (contentamento)

  • Tapas (disciplina e autocontrole)

  • Svadhyaya (estudo de si mesmo)

  • Ishvara Pranidhana (entrega ao divino)

  • Asanas (Posturas físicas):

As posturas preparam o corpo para a meditação, promovem força e flexibilidade e mantêm o corpo saudável e equilibrado.

  1. Pranayama (Controle da respiração):

Técnicas para controlar e expandir a energia vital (prana), equilibrando o corpo e a mente.

  1. Pratyahara (Retração dos sentidos):

O afastamento dos sentidos dos estímulos externos para que a mente possa focar no interior.

  1. Dharana (Concentração):

O foco intenso em um único objeto, seja um som, uma imagem ou o próprio ser interior.

  1. Dhyana (Meditação):

Um estado contínuo de meditação, onde a mente está focada e livre de distrações.

  1. Samadhi (Iluminação):

O estado final de união com o divino, onde o praticante transcende o ego e experimenta a unidade com o todo.

OS CAMINHOS DO YOGA: MANEIRAS DE PRATICAR E VIVENCIAR O YOGA

No contexto histórico existem quatro caminhos principais de yoga - Karma yoga, bhakti yoga, raja yoga e jñana yoga. Pode-se dizer que cada caminho serve para um determinado temperamento, ou maneira de ver o mundo, mas todos levam ao mesmo objetivo - a união com o divino que há em nós.

  1. Karma yoga: o caminho da ação. Escolhido pelos de natureza extrovertida. Significa estar totalmente presente em cada ação do seu dia.

  2. Bhakti yoga: o caminho da devoção. Atrai os de natureza emotiva. Com o tempo a prática se torna devocional, mas sem um sentido religioso e sim uma devoção ao divino que habita em cada ser e que é o próprio universo.

  3. Jñana yoga: o caminho do conhecimento discriminativo, da sabedoria. Usar a mente para discriminar o que é real do que é irreal, ou seja, tornar a mente uma ferramenta consciente de ação no mundo, estando atentos para tudo que nos rodeia de forma livre.

  4. Raja yoga: o caminho do controle da mente. Atrai pessoas austeras e disciplinadas, baseia-se profundamente na meditação e na consciência mental do presente, ou seja, estamos sempre conscientes da mente dispersa então trazemos ela de volta.

CONCLUSÃO

O yoga é uma prática profunda que vai além dos aspectos físicos, abrangendo benefícios espirituais e mentais, e sem nenhum aspecto religioso ou doutrinação envolvido. O Ashtanga Yoga oferece um caminho completo para a transformação pessoal e espiritual, conduzindo o praticante ao autoconhecimento e à libertação. Para quem busca equilíbrio, paz interior e um sentido mais profundo de propósito, o yoga é uma ferramenta poderosa e acessível a todos os níveis de praticantes.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Patanjali. (2011). Os Yoga Sutras de Patanjali: Tradução e Comentários de Swami Vivekananda. Ed. Pensamento.

Vivekananda, Swami. (2006). Raja Yoga. Martin Claret.

YENGAR, B.K.S. (1918-2014), Luz sobre o yoga: Yogadipika. Ed. Pensamento – Cultrix, São Paulo, SP.





1Praticante de Yoga há mais de 10 anos nesta vida. Instrutora formada pela escola Nilaya Yoga de NH – Certificação Yoga Alliance RYS® 390 e Yoga Alliance RYS® 300 Avançado.

 
 
 

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