Yoga: O caminho para liberação através do corpo
- shentimaura
- 17 de jul.
- 5 min de leitura

Maura Cristiane Santana Carneiro1
Tão importante quanto a respiração é a prática de yoga. O yoga é a união da mente com o espírito e utiliza o corpo como meio para esse objetivo, acreditando que, por meio da prática de asanas, é possível alcançar a transcendência e ir além da existência meramente física. Essa forma de pensar e viver o yoga foi introduzida no Ocidente, adaptada à nossa percepção, já que, para nós, o que fazemos geralmente passa primeiro pelos sentidos, depois é assimilado pelo cognitivo, para só então buscarmos transcender nossa existência.
No entanto, na Índia, onde o yoga surgiu como um dos seis sistemas ortodoxos da filosofia indiana, acredita-se que nossa existência, independente de qualquer religião — pois o yoga é uma filosofia e não uma prática religiosa — é permeada pelo espírito, pela alma, ou por uma energia universal suprema da qual todos fazemos parte. Assim, o yoga visa a unir o ser humano ao divino, numa existência contínua e entrelaçada com o universo.
Os praticantes do yoga são chamados de yogi (masculino) ou yogini (feminino). Através da prática constante do yoga, busca-se a libertação da dor e do sofrimento, que são inerentes a todos os seres. O Hatha Yoga, uma das formas mais conhecidas no Ocidente, é baseado em três pilares: força, equilíbrio e “liberação”. Através da prática dos asanas, que exigem disciplina, superação e perseverança, podemos alcançar essa libertação tão almejada.
Nas escrituras que fundamentam o yoga, existem estágios que precisam ser alcançados para se praticar e atingir essa liberação. Esses estágios, conhecidos como Ashtanga (o caminho de oito partes) são:
1. Yamas – Restrições éticas, como não-violência, honestidade e desapego.
2. Niyamas – Observâncias pessoais, como pureza, contentamento e autodisciplina.
3. Asanas – Posturas físicas que ajudam a controlar o corpo e a mente.
4. Pranayama – Controle da respiração para aumentar a energia vital.
5. Pratyahara – Retirada dos sentidos, voltando a atenção para dentro.
6. Dharana – Concentração, o foco em um único ponto ou objeto.
7. Dhyana – Meditação profunda, onde o estado de concentração se aprofunda.
8. Samadhi – O estado de união com o divino, o objetivo final do yoga, onde o praticante experimenta a libertação.
Ao praticar o yoga com dedicação e comprometimento, não apenas trabalhamos o corpo, mas também a mente e o espírito, buscando sempre o equilíbrio interior e a libertação de todo sofrimento.
O Yoga e as Flutuações da Mente: Um Caminho para a Liberação
O Yoga, mais do que uma simples prática física, é uma filosofia milenar que busca a integração do corpo, mente e espírito. No Ocidente, é comum que o primeiro contato com o Yoga ocorra através das posturas físicas, os “asanas”, devido à nossa cultura, que valoriza as experiências sensoriais antes de explorar aspectos mais profundos. Porém, à medida que mergulhamos na prática, compreendemos que o Yoga vai além dos movimentos corporais, sendo um caminho para a transcendência e liberação.
A Jornada Iniciada pelos Asanas
Idealmente, o estudo e a prática do Yoga deveriam começar pelos Yamas (códigos morais) e Niyamas (disciplina pessoal), os dois primeiros estágios do Ashtanga Yoga, conforme descrito nos Yoga Sutras de Patanjali. No entanto, como esses aspectos ainda são pouco familiares em nossa cultura, iniciamos com os asanas. A prática física nos permite acessar, aos poucos, a profundidade filosófica dessa disciplina.
Conforme evoluímos na prática, seja nas posturas ou na respiração, começamos a perceber que o Yoga não se limita ao físico. Surgem desafios, como a dificuldade em realizar uma postura ou em manter o controle da respiração, que muitas vezes nos levam a desistir. Esse abandono está ligado às nossas crenças limitantes, às barreiras mentais que construímos ao longo da vida.
No entanto, a prática constante e disciplinada desbloqueia esses obstáculos. O corpo e a mente passam a fluir com as dificuldades e conquistas, mostrando que somos capazes de superar as prisões mentais que nos paralisam. Esse processo de liberação revela o verdadeiro poder transformador do Yoga.
Os Vrttis e as Flutuações da Mente
Durante a prática de Yoga, muitas flutuações mentais, ou vrttis, começam a se manifestar. Elas representam os estados mentais que nos afastam da paz e do equilíbrio. Patanjali descreveu cinco causas principais dessas flutuações, que são fundamentais para entender os bloqueios internos que enfrentamos ao longo da jornada.
1. Pramana (Conhecimento Correto) - O conhecimento baseado em fatos, experiências e percepções corretas. Embora o pramana seja positivo, ele pode nos limitar quando nos apegamos excessivamente a verdades fixas, impedindo a evolução e o crescimento mental.
2. Viparyaya (Conhecimento Incorreto) - As percepções errôneas ou ilusórias são outra fonte de flutuações mentais. Muitas vezes, interpretamos a realidade de forma distorcida, gerando confusão, frustração e sofrimento.
3. Vikalpa (Imaginação ou Fantasia) - A mente cria cenários que não correspondem à realidade. Essas fantasias, medos e ansiedades nos desconectam do momento presente, fazendo com que sejamos aprisionados por pensamentos que não têm fundamento.
4. Nidra (Sono) - O estado de inconsciência também é uma causa de flutuação mental. A mente pode estar adormecida ou pouco vigilante, o que gera desatenção e falta de clareza. O sono também pode ser uma metáfora para a ausência de autopercepção e introspecção.
5. Smriti (Memória) - As lembranças do passado, as impressões que ficaram na mente, podem reaparecer constantemente, influenciando nosso comportamento atual. Se não formos capazes de compreender essas memórias, podemos ser presos por padrões de comportamento antigos, repetitivos e limitantes.
A Liberação Através da Prática Constante
Essas cinco causas de flutuação mental mostram o quão complexa é a mente humana. Elas evidenciam como, por meio do Yoga, podemos identificar e reconhecer esses padrões. A prática constante e disciplinada de asanas, pranayama (controle da respiração) e meditação nos auxilia a quebrar esses ciclos, trazendo à tona uma maior consciência sobre nossos bloqueios internos.
O processo de autoinvestigação proposto pelo Yoga nos desafia a lidar com nossos condicionamentos mentais. À medida que avançamos na prática, percebemos que somos capazes de nos libertar dessas limitações, abrindo espaço para a verdadeira transformação. Assim, o Yoga nos ensina a fluir com as dificuldades e as vitórias, aceitando o processo de libertação que vem tanto do corpo quanto da mente.
Conclusão
O Yoga é um caminho de libertação que transcende o físico e nos leva à união com o divino. Ao explorar os Vrttis e suas causas, entendemos que as flutuações da mente fazem parte do processo de evolução. A prática contínua nos permite identificar, desconstruir e, finalmente, libertar-nos das amarras mentais que nos impedem de alcançar a paz interior. Dessa forma, o Yoga nos guia para a transcendência, onde o corpo, mente e espírito fluem em harmonia com o universo.
Referências Bibliográficas
Patanjali. (2011). Os Yoga Sutras de Patanjali: Tradução e Comentários de Swami Vivekananda. Pensamento.
Vivekananda, Swami. (2006). Raja Yoga. Martin Claret.
1Praticante de Yoga há mais de 10 anos nesta vida. Instrutora formada pela escola Nilaya Yoga de NH – Certificação Yoga Alliance RYS® 390 e Yoga Alliance RYS® 300 Avançado.








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